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A glória de Deus no sofrimento cristão (uma exposição de Jo.11)


Jo. 11.1-4


Depois de ter realizado um milagre curando um cego de nascença no cap. 9 e logo após no cap. 10 ter se revelado aos discípulos como o bom pastor que dá a própria vida pelas suas ovelhas, Cristo realiza no cap. 11 aquele que é considerado o seu ultimo milagre antes de chegar à cruz. O texto nos diz que estando Jesus em um determinado lugar, na Peréia, lhe chega à notícia enviada por Marta e Maria irmãs de Lázaro, que aquele a quem Cristo muito ama está gravemente enfermo. Somos informados no v.5 do amor de Jesus para com esta família de uma forma especial, deixando subentendido existir certa amizade íntima entre eles.
Por esta amizade era de se esperar que nosso Senhor ao saber da notícia, largasse tudo que estava fazendo e corresse para socorrer seu amigo e arrancá-lo daquela miserável situação de dor e sofrimento.
Porque de fato é isso que se espera de um amigo que vê o outro em terrível sofrimento; que ele faça alguma coisa de imediato para aliviar a sua dor.
Contudo, Jesus não reage assim, o v.6 diz que Ele ainda se demorou no lugar onde estava por dois dias. Jesus não se precipita em evitar o sofrimento de seus amigos. Ele sabe o porquê.
Depois então de dois dias, Ele resolve voltar a Judéia ao encontro de Lázaro. Neste ínterim seus discípulos tentam persuadi-lo a não fazer isso por causa da ameaça de apedrejamento em razão do milagre do cego de nascença operado ali. Jesus não dá ouvido e lhes responde em parábola nos vs. 9,10 dizendo que, aquele que anda na luz não pode tropeçar, mas se andar nas trevas chega a tropeçar, porque nele não há luz. Alguns intérpretes consideram que Jesus se referia aqui ao fato de Ele está fazendo a vontade do Pai e todos os meios, pois, seriam arranjados pelo próprio Pai para que todo o seu plano fosse realizado sem impedimento algum. E o propósito de Cristo ali, mesmo já se passados dois dias, era muito mais sublime, superior e elevado, do que fazer uma visita superficial a Lázaro em seu leito de enfermidade como nós costumamos fazer aos nossos amigos.Ele diz aos seus discípulos que vai a Judéia porque Lázaro adormeceu e precisa ser despertado. Os discípulos, como sempre de entendimento curto, dizem para Cristo no v. 12: “Senhor, se dorme, estará salvo”.
Então Jesus de maneira incisiva, paciente e direta diz a eles: “Lázaro morreu”. Ou seja, não é o que vocês estão pensando, ele não repousa o sono da noite, mas está morto e irei até lá para ressuscitá-lo dentre os mortos. Lázaro morreu! E mais, diz também que um dos motivos de sua alegria era o fato deles não estarem lá quando Lázaro morreu, porque assim creriam na manifestação do poder de Deus no esplendor de sua graça gloriosa. A Bíblia Sagrada diz que um discípulo chamado Tomé, irmão de Mateus, ainda não acreditando que Cristo voltaria a um lugar pessoalmente perigoso para Ele, levantou-se com os condiscípulos e disse: “Vamos também nós para morrermos junto com Ele”. Ou seja, ele não entendeu nada do que Cristo falou no v.9. A viagem de Jesus é aproximadamente um percurso de três quilômetros até Betânia e a sua chegada é marcada com a notícia de que Lázaro já está sepultado há quatro dias. A casa de Marta e Maria tinha virado um lugar de lamento, cheio de gente tentando consolá-las, denotando ser uma família muito querida em Betânia.
No entanto, quando Marta soube que Jesus vinha chegando, saiu ao seu encontro e disse: “Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão. Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá”. (v.21,22). Jesus, por sua vez, fala em tom de esperança ao coração de Marta no v.23: “Teu irmão há de ressurgir”. Marta, como toda judia piedosa, diz o v.24 que ela crê na certeza de uma ressurreição final, porém tal crença não lhe alivia o luto da alma. Ela acreditava na ressurreição, mas não para aquele instante, somente para o ultimo dia em que Deus ressuscitará os homens bons e maus para receber as recompensas cada um segundo as suas obras. Era isto que permeava a mente de um judeu piedoso, que haveria uma ressurreição, mas somente no final de todas as coisas. Jesus, por sua vez, lhe diz que ela não precisa aguardar a ressurreição do ultimo dia para que seu irmão ressuscite dos mortos, porque havia algo a seu respeito que ela precisava saber categoricamente, ou seja, que Ele próprio é a ressurreição e a vida.


V.25,26
Jo. 14.6 – “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai se não por mim”.


C. S. Lewis – “Alguém que se declara ser o que Cristo disse ser, ou é um louco, maluco, lunático, ou é quem de fato se diz ser, Deus”.


Pois bem, agora Marta conhece a ressurreição e a vida na pessoa de Jesus, entendendo que Ele é o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo. E tomada não mais do espírito de luto, mas da esperança de ter seu irmão de alguma forma de volta ao seio de sua família, retira-se e chama sua irmã. O encontro de Maria com Jesus se dá quase que nos mesmos moldes que o encontro de Marta, carregado de lágrimas e luto por seu irmão. Maria repete as mesmas palavras de sua irmã. E Jesus ao ver suas lágrimas “agita-se em espírito”, e quando vai ao lugar em que Lázaro estava sepultado, o v.35 diz que: “Jesus chorou”. A expressão mais profunda da natureza humana estava manifesta em Cristo, suas lágrimas. Eis aqui um texto que destrona a idéia de que Cristo não foi humano. Alguns judeus observaram suas lágrimas dizendo: “Vede quanto o amava!”. Outros objetaram malignamente contra Ele: “Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer com que este não morresse?”. Cristo, por sua vez, continua inquieto com toda aquela situação de choro e luto, e passa então rapidamente a finalizar todo aquele desespero iniciando o processo que desemboca na ressurreição de Lázaro. Ele pergunta onde o sepultaram; Ele manda retirarem a pedra do tumulo; Ele ora ao Pai em agradecimento pela resposta já concedida, e por fim chama ousadamente Lázaro a vida dizendo: “Lázaro, vem para fora”.
E o resultado final é o que está escrito no v.44:
“Saiu àquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir”.


Pois bem, essa é a história do ultimo milagre de Jesus antes da cruz. Isto é tudo. Se nos perguntarem agora sobre qual foi o ultimo milagre de Jesus antes da cruz, todos nós sabemos qual foi e como contá-lo. Todavia, há um versículo chave na história que acabamos de considerar, sem o qual todo este relato da ressurreição de Lázaro fica sem sentido e significado. Na verdade se não o considerarmos como o ponto chave desse fato, estamos sendo humanísticos em nossa abordagem e nunca teocêntricos quanto o é o texto em seu sentido original. Aliás, não estaremos sendo honestos se abordarmos tal história genericamente e nunca acertarmos o seu alvo explorando seus pormenores. Isto não será o que chamamos de pregação expositiva, mas somente uma narração bíblica histórica sem funcionalidade alguma para vida real. Se depois de tudo isso não houver um versículo que dê um sentido prático para a nossa fé, isto não é pregação bíblica; é qualquer outra coisa, menos pregação. E o versículo que precisamos considerar urgentemente nesse texto é o v.4.


V. 4 – “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado”.


Bem, tudo isto que vemos até aqui precisa ser tratado e analisado a luz do v.4. O v.4 revela o fim para o qual todos os eventos se desenrolam e desembocam no milagre da ressurreição de Lázaro. Nele Jesus inicia dizendo que “Esta enfermidade não é para a morte”. Aqui há algo que tanto Lázaro, quanto suas irmãs e todos os homens da terra têm em comum – o sofrimento. Aqui temos as palavras “enfermidade” e “morte”, juntas na mesma sentença. Até onde eu sei estas duas palavras não expressam outra coisa se não sofrimento. E sofrimento é uma realidade na vida de todos os homens debaixo do sol. De modo que há quem diga que o homem que nunca sofreu é porque nunca viveu. Há um poema do séc. XVII(17) de um poeta chamado Francisco Otaviano que diz:


“Quem passou pela vida em branca nuvem

E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem – não foi homem,
Só passou pela vida – não viveu”.


Portanto, não são estranhas a ninguém as palavras de Cristo como enfermidade e morte, pois isto nos é muito familiar na existência cotidiana. Todavia, eu não poderia falar de sofrimento sem também reportar sua causa. E a meu ver nenhum sofrimento poderá ser explicado à parte de tudo o que aconteceu com o homem no jardim do Édem no cap. 3 do livro de Gênesis. O homem vivia em total perfeição com Deus e consigo mesmo e a natureza no paraíso, ele poderia estar vivendo ainda lá:
sem câncer, abortos,
morte de filhos, sem tumulo;
sem bala perdida,
sem tráfico de drogas,
sem AIDS, incêndios,
sem diabetes, sem divórcios,
sem guerras, desempregos
sem bomba atômica, perseguição religiosa,
sem ter que tomar besetacil,
sem gripe suína ou aviária,
sem tsunamis, furacões e terremotos,
sem sofrimento algum!


Ele só tinha que se manter em obediência a voz de Deus, não comer do fruto da árvore do bem e do mal que estava no meio do jardim; somente isto. Mas não foi assim que ele se conservou, antes, desobedeceu a Deus, comeu do fruto proibido e com sua atitude vieram todos os males que temos no mundo. Ele agora sofre com o medo, os espinhos, as dores de parto, o desentendimento com a natureza, não mais domina sobre os animais, se fadiga no trabalho e etc.
Em fim, o homem agora descobre o outro lado do fruto do bem e do mal – o sofrimento. Antes ele só conhecia o bem, agora ele conhece também o mal. Há quem diga que quando Jesus chora no v.35, é lamentando a miséria do homem por causa do pecado. Bem eu não sei se essa era a causa real das lágrimas de Cristo, mas sei que tudo o que está ligado à morte, dor e sofrimento humano nos remete automaticamente a Gn. 3; ali está à explicação final de todo e qualquer sofrimento.
O próprio homem se auto-colocou no sofrimento, ele é o responsável final. Alguns sofrem por futilidades, outros sofrem por motivos sublimes e dignos, mas a realidade é que todos em algum grau experimentam o sofrimento. Agora, por que o homem foge tanto daquilo que buscou? O homem foge do sofrimento quando:
muda-se para um bairro mais seguro;
procura viver em lugares mais frios;
evita andar na chuva;
toma uma aspirina;
evita andar em ruas escuras;
intenta fazer uma dieta ou praticar um esporte;
compra um carro blindado ou paga um caro plano de saúde e etc.


Ou seja, tudo isso são formas de fugir do sofrimento; portanto, não se vê propaganda em lugar algum anunciando qualquer espécie de sofrimento. Você já foi a um shoping-center? Eu não gosto de shoping-center, eu vou raramente a um e é bem a contra gosto. Vá a um shoping-center e pare observando por uns 20 minutos como as pessoas se comportam e como as vitrines estão cheias de fantasias de felicidade fútil que buscam fazer o cliente pensar que todo o sofrimento dele acaba na compra daquele produto; e concomitantemente, veja como nada ali faz propaganda de sofrimento; tudo ali expressa felicidade fútil. Nada de sofrimento, tudo muito em plastificado. Se fosse lhe dada hoje uma opção entre você ir passar um dia num shoping-center ou num hospital, em qual dos dois lugares você escolheria passar o seu dia? Ainda há nisso tudo os espertalhões da fé neopentecostal que colocam convites em letras garrafais nas paredes externas de seus templos: “PARE DE SOFRER”! Contudo, essa não é a cara da vida real; na vida real há gente em agudo sofrer sem importar seu credo ou nacionalidade, o sofrimento é comum a todos.


C. S. Lewis – “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo”.


O próprio Filho de Deus foi alguém que muito sofreu; Ele ficou conhecido como um “homem de dores”; sofreu a morte “e morte de cruz”. Hb. 5.8 – “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. No entanto, depois de Jesus falar que a enfermidade de Lázaro não era para a morte, continuou e disse: “mas para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado”. O sofrimento de Lázaro não era em vão. Tinha um propósito elevado e sublime. A primeira coisa que temos aí nesta declaração é que duas pessoas estão sendo glorificadas por meio do sofrimento de Lázaro, Deus Pai e Deus Filho. É “para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado”. O que temos aqui diante mão é que a bendita Trindade está sendo glorificada. Para entendermos isso melhor, abordemos toda a questão pelo prisma de Jônatas Edwards, quando ele diz que: “Deus tem paixão por sua glória”.
Deus é autocêntico. O grande compromisso dEle é com a sua própria glória. Glória esta que se expressa em cada canto do universo.


Sl. 19.1 – “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”.
Sl. 96.6 – “Glória e majestade estão diante dele, força e formosura, no seu santuário”.
Is. 42.8 – “Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura”.

Se analisarmos com calma o capitulo 17 do evangelho de João, perceberemos como a maior preocupação de Cristo ali é com a glória do Pai e a sua própria glória. Jo. 17. 1,4,5,9,19,24. Em suma, não há como glorificar um sem glorificar o outro. A glória tributada ao Pai é tributada tanto ao Filho quanto ao Espírito Santo e assim mutuamente entre Eles. Ora, é como a obra da redenção humana que foi distribuída num conselho eterno antes da fundação do mundo entre eles mesmos. Sendo o Pai o originador, o Filho o executor e o Espírito Santo o aplicador. Então agora podemos entender o porquê aquela enfermidade era para “a glória de Deus e gloria do Filho”, é porque a glória de um é inseparável da glória do outro. Então compreendemos que o próprio Deus triuno é que se encarrega de se autoglorificar em nós como cristãos. O próprio Jesus disse em Jo. 17.9,10 – “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado”. E Cristo diz mais uma coisa que não pode passar despercebida, para compreendermos melhor ainda o ponto chave do v.4. Jesus diz agora como, de que maneira Ele é glorificado em nós. Ele disse que esta enfermidade não era para a morte, mas para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus fosse por ela [pela enfermidade] glorificado. “Por ela”, a enfermidade é o meio, canal, a via pela qual Deus seria glorificado e honrado.


O propósito final da enfermidade em Lázaro é para Deus ser glorificado.

Quando Lázaro ressurge da morte, ali está Deus sendo finalmente glorificado. Glorificado em vencer a morte, o tempo, na alegria do rosto das irmãs de Lázaro, sua providência, ser adorado como Deus na pessoa de Cristo Jesus. Glorificado! Ora meus irmãos, que verdade gloriosa temos aqui diante de nós. Pois entendemos agora que o sofrimento, seja ele qual for em nós, poderá ser melhor enfrentado se o encararmos por esse prisma – para a glória de Deus. O problema é que isto mexe profundamente com nossa cosmovisão cristã humanística de como deve ser a nossa relação com Deus. Pois no cristianismo humanístico, Deus é quem serve ao homem; o homem é o centro das atenções; o homem é o senhor e Deus é o mordomo. Todavia, no cristianismo bíblico e teocêntrico o homem é quem serve a Deus; Deus é o centro das atenções; o homem é o mordomo e Deus é o Senhor. E mais que isso, Deus é o grande motivo de sua alegria, ou seja, ele tem prazer no seu Senhor; Deus é o seu maior prazer. O crente é aquele que concorda com o que Paulo diz sobre glorificar a Deus em tudo o que é, faz ou realiza. I Co. 10.31 – “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”.
O prazer do cristão é o de se satisfazer em Deus realizando tudo para glorificá-lo, honrá-lo, adorá-lo e exaltá-lo. E se Deus se sente glorificado, então eu me sinto satisfeito; não importa o meio pelo qual eu busco a sua glória. Porque o cristão é alguém que ler a vida pela seguinte ótica, ou seja, de que “Deus é mais glorificado em mim, quando estou mais satisfeito nele”. Este é um dos conceitos teológicos de glorificação a Deus muito usado no ministério de um pastor americano chamado John Piper. É uma grande verdade acerca da totalidade da vida cristã! E ela se torna muito mais coerente quando aplicada ao nosso sofrimento. Como? Ora, somos instruídos em todo tempo a fazermos tudo sob inspeção cuidadosa, analisando se o que estamos fazendo glorifica a Deus ou não.


se o nosso trabalho glorifica a Deus ou não;
se o nosso domingo glorifica a Deus ou não;
se a nossa administração familiar glorifica a Deus ou não;
se os nossos entretenimentos sociais glorificam a Deus ou não;
se como administramos nosso dinheiro glorifica a Deus ou não;
se o nosso modo de comer, vestir, andar, falar glorifica a Deus ou não.


Todavia, somos pouco instruídos em saber se o nosso sofrimento pode ter a mesma finalidade. Ou melhor, somos pouco informados de como podemos glorificar, honrar e exaltar a Deus em nosso sofrimento. Ou seja, fazer do nosso sofrimento um meio de honrar e glorificar a Deus. O alvo de Cristo era o de fazer do sofrimento de Lázaro um meio para glorificar a Deus; esta era a perspectiva que Cristo tinha do sofrimento, um meio de glória. Esta deve ser também a nossa perspectiva do sofrimento, um meio de glória. Se a nossa satisfação encontra-se em glorificar a Deus, a Cristo não teremos problema em usar do nosso sofrimento como à via principal para este fim. Para entendermos como essa verdade se aplica em nosso dia a dia, devemos partir da seguinte argumentação. O cristão é alguém que não sofre em vão e nem sozinho. O cristão é alguém que sofre com Cristo e por Cristo. Como assim? Com Cristo em razão da companhia dEle ao nosso lado como aquele que se compadece das nossas dores. Por Cristo no sentido do sofrimento testar e provar nossa lealdade a Ele. Com Cristo porque somos filhos, por Cristo porque o amamos. O cristão traz consigo dois tipos de sofrimento, aquele que ele escolhe e aquele que ele não escolhe. O tipo de sofrimento que o cristão escolhe é observado no sacrifício de obedecer ao chamado cristão com suas duras condições.


Lc. 9.23 – “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”.
II Tm. 3.12 – “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”.
Fl. 1.29 – “Porque vos foi concedida à graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele”.
Jo. 15.20 – “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros...”.
I Pe. 4.14 – “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”.


Esse tipo de escolha em viver piedosamente para Cristo resultará em perseguição, rejeição pelo fato de eu me parecer com Cristo. Um rapaz cristão me procurou e disse que estava sofrendo muito na faculdade, porque seus amigos lhe bombardeavam de convites para sair, beber, farrear e ele não sabia o que fazer. Eu lhe disse quais eram as condições de seguir a Cristo, de negar-se a si mesmo e transformar isso numa luta diária em carregar a cruz, não havia outro caminho. Falei que para Cristo não há atalhos, ou é isto, ou é nada. É escolher sofrer por Cristo. Mas há também aquele tipo de sofrimento que o cristão não escolhe como uma enfermidade, ou a morte de um parente, ou um assalto, ou um acidente e etc. É toda a história de Jó; vocês lembram?! Pois bem, há entre nós, aqui hoje, variados tipos de sofrimento que vai do mais grave ao mais simples. Não há ninguém aqui neste auditório que não tenha o seu particular sofrimento; há? Há alguém aqui que não sofre? O sofrimento não escolhe cor e nem raça, mas atinge a todos.
Creio eu que aqui há pessoas sofrendo:
com as conseqüências de um câncer;
com o medo de ficar desempregado;
com as conseqüências de um assalto;
sendo perseguida no emprego por um patrão insensível;
angustiadas por causa do marido não cristão e déspota;
com a solidão e o abandono da família;
com certo tipo de depressão espiritual;
com a rebeldia dos filhos ou da esposa;
com a morte recente de um parente;
com algum caso de doença cardíaca na família;


Em fim, podemos sumariar dizendo que há entre nós os mais variados tipos de sofrer e pesar. Sofrimentos que levam muitos a chorar amargamente. Entretanto, se estamos sofrendo como cristãos com Cristo e por Cristo, devemos perguntar: Quando é que Deus é glorificado em nosso sofrimento? Como podemos magnificar, honrar, adorar e glorificar a Cristo em nossos momentos mais de terríveis dores?

R: Quando estamos mais satisfeito com Ele em nosso sofrimento, do que sem Ele em qualquer situação de conforto ou segurança.

E para que isto aconteça precisamos ter Cristo como o bem de maior valor, mais supremo e mais sublime que possuímos em nossa vida. Como diz um hino que cantamos “Incomparável”, um bem incomparável. É como a parábola da perola preciosa em Mt. 13, onde um negociador de perolas tendo achado uma de grande valor, vendeu tudo que possuía e a comprou. Ou também como a parábola do tesouro escondido, que um homem achou, vendeu tudo o que tinha e comprou o campo onde estava o tesouro. Cristo precisa ser este tesouro e esta pérola para nós. John Piper – “O cristão é alguém que dá tudo quanto tem para ganhar a Cristo”. Foi isso que fez os apóstolos, os mártires e todos os santos do passado suportarem sofrimentos terríveis e não negarem Cristo, pois Ele era o seu maior bem. Permita-me ilustrar o que estou dizendo com a vida do apóstolo Paulo; vejamos que valor ele dava a Cristo em sua vida; como ele encarava o sofrimento.


II Co. 12.9,10

Paulo sentia alegria no sofrimento por amor a Cristo para que Deus fosse mais glorificado nele; ou seja, enquanto mais necessitado eu possa me encontrar, mais Deus será glorificado em mim, pois, seu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza e não na minha força. Ele disse que sentia prazer em tudo isso por amor a Cristo, porque quando era fraco, então é que era forte. Em outras palavras, se o meu sofrimento glorifica a Deus, aí está a minha força, alegria, satisfação, o meu gozo. É como se Paulo dissesse: “Estou satisfeito com Cristo em minha fraqueza, do que se estivesse forte sem Ele”. Cristo é mais glorificado em seu sofrimento, quando você está mais satisfeito com Ele em seu sofrimento. Mais satisfeito do que se você não tivesse nenhum sofrimento:
Nenhum câncer;
nenhuma perseguição no emprego;
nenhum problema com seu filho rebelde;
nenhum dilema com seu marido que lhe maltrata;
nenhum desemprego.


Ou seja, o cristão é alguém que ousadamente diz: estou mais satisfeito com Cristo: em meu desemprego, do que em um emprego milionário sem Cristo; em minha enfermidade, do que se tivesse toda saúde do mundo para viver sem Cristo; em meu casamento capenga, do que em um casamento perfeito sem a presença de Cristo. Em minhas perdas profundas, do que em todos os meu ganhos longe dEle. Isto é estar mais satisfeito nEle; isto é glorificá-lo no sofrimento. Outro texto que devemos considerar sobre Paulo é este:


Fl. 3.7,8 – “tudo como perda... para ganhar a Cristo”.
Fl. 1.20-23

Paulo vivia para que Cristo fosse engrandecido por meio de seu corpo, quer seja na vida, quer na morte e considera que o viver é Cristo, mas o morrer é lucro. Ora, morrer significa sofrimento, então como Paulo diz que morrer é lucro para ele?! Sofrer pode ser lucro para alguém? Será que o lucro de Paulo seria o fato de acabar todos os seus sofrimentos como dizem os existencialistas, que quando se morre acaba tudo?! A resposta está no v.23; morrer para Paulo significa que nada mais estar entre ele “o prêmio da soberana vocação” – Cristo; ou seja, que está com Cristo é “incomparavelmente melhor”. Cristo era o seu lucro e nada mais. Toda a questão que estamos considerando gira em torno disso: quem é o nosso lucro depois do sofrimento?A saúde, o emprego, o casamento perfeito? Se Cristo é o meu lucro, então posso dizer como Paulo, que desejo algo que é incomparavelmente melhor do que qualquer outra coisa.
Ele é incomparavelmente melhor do que:
toda a saúde do mundo;
todo o dinheiro do planeta;
toda segurança e paz que posso ter nesta vida; Ele é incomparavelmente melhor.


O cristão é alguém que não sofre em vão, há lucro para ele no final; e o seu lucro é o próprio Cristo que sobre todas as coisas é incomparavelmente melhor. Por que o cristão é alguém que mesmo sofrendo não precisa andar cabisbaixo?
Por que é incoerência o cristão viver em depressão sem fim?
Por que é ilógico um cristão ser menos feliz do que um ímpio?
Por que é tolice o cristão pensar em suicídio?
Por que é absurdo um cristão viver com medo e ansioso?


R: Por causa do seu lucro eterno, ganho, Cristo, que é incomparavelmente melhor.

Cristo é glorificado em mim justamente quando tudo está perdido e mesmo assim eu continuo dizendo: Lucro! Lucro! Lucro! Eu não perdi nada, eu tenho a Cristo. Este é o meu lucro. Alguém disse: “O que engrandeceria a Jesus sem sua morte seria você dizer acariciando o braço de sua mãe lhe assistindo em seus últimos segundos de vida: Tudo bem. Tudo bem. Estarei com Jesus; isso é lucro”. Na morte fica tudo para traz; os sonhos, a família, as realizações, o casamento e você considerar isso como lucro por Cristo; quem recebe toda a glória? Jesus. Eu posso ser feliz no sofrimento quando compreendo quem é meu lucro no final. E se tenho Cristo como meu lucro final, Ele é muito mais glorificado nisso e eu sou muito mais feliz do que poderia ser longe dEle. Isso é o controverso “hedonismo cristão”, que se traduz em uma vida devotada totalmente ao prazer em Deus; ou seja, o meu prazer, alegria, felicidade é Deus. Além do mais, há mais uma razão para estarmos satisfeitos nEle no sofrimento, a saber que Ele próprio nos ressuscitará para gozarmos de sua presença.


I Co. 15.19 – Paulo protestou dizendo: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. E mais a frente ele diz: “E por que também nós nos expomos a perigos a toda hora? Dia após dia, morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.


Não, essa não é a realidade final do cristão; Ressuscitaremos um dia. O cristão não sofre por Cristo e com Cristo em vão. Têm um lucro. O cristão é alguém que crê naquele que disse de si mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida; e todo aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente”. A esperança do cristão não se limita apenas a esta vida, mas no fato de que um dia ele ressuscitará da morte para gozar eternamente de Cristo, o seu lucro, a sua felicidade. Cristo é o que dá sentido final a nossa ressurreição. O cristão é alguém que ressuscitará por ser achado em Cristo e em sua justiça.


Fl. 3 – “e ser achado nele... conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.”.

É assim que o cristão é achado em Cristo, conformado com Ele em sua morte, em sua cruz para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos. A glória de Deus brilhará mais forte no fim do túnel de nosso sofrimento. Se Cristo é o nosso lucro, e o nosso sofrimento o glorifica, então, sejamos felizes em Deus porque “se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados”.

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