Pular para o conteúdo principal

Não andeis ansiosos

Mt. 6.25-34

1. Não andeis ansiosos.

William MacDonald disse: “Nessa passagem Jesus golpeia a tendência de centralizarmos a vida ao redor da comida e do vestuário, perdendo assim o seu verdadeiro significado”.

John Stott ponderou: “Basta olhar para a propaganda na televisão, nos jornais e nos transportes públicos para vermos uma vívida ilustração moderna do que Jesus ensinou há cerca de dois mil anos atrás sobre ansiedade mundana”.

Spurgeon acrescentou: “O que comer, o que beber e o que vestir são a trindade dos cuidados do mundo”.

2. Pois bem, é contra esses cuidados perigosos que trataremos neste momento.
3. O texto que hora consideramos é uma porção do famoso Sermão do Monte pregado por Jesus.
4. Este Sermão, que não tem como alvo o homem ímpio, mas o cristão, aquele homem que nasceu de novo, se arrependeu de seus pecados e creu no evangelho;
5. Revela em toda a sua extensão, instruções especificas sobre como este homem crente deve viver e palmilhar todo o chão da vida cristã.
6. Aliás, o Sermão do Monte, para todos os efeitos, mostra de uma vez por todas a disparidade que há entre o estilo de vida do ímpio e o estilo de vida do cristão; mostra como são profundamente antagônicos.
7. E é isso que podemos observar claramente no texto que lemos hoje.
8. Todo o cap. 6 de Mateus é dividido em duas seções que tratam especificamente de como deve ser a vida prática de um crente.
9. Na primeira seção que vai do v.1-18, Jesus trata da vida particular do cristão, ou seja, sua piedade na esmola, no jejum e na oração.
10. Na outra seção do v.19-34, Ele aborda a vida pública do crente no mundo, como questões de dinheiro, comer, beber, vestir, ambições, negócios e etc.
11. Jesus nos declara aqui que há dois aspectos sobre a vida cristã que devemos levar em conta – aquilo que o crente faz em particular, e aquilo que ele faz em público.
12. Bem, não é o nosso foco hoje tratarmos daquilo que o crente faz em particular, mesmo sendo essa uma boa questão a ser ventilada; mas fica para depois.
13. Todavia, o nosso foco será concentrado naquilo que se traduz na vida pública de um homem ou uma mulher que se diz cristão.

Como deve se comportar um cristão em sua vida pública?
O que devem expressar todos os atos públicos de um crente?
Qual deve ser a atitude de um cristão no que tange ao dinheiro, trabalho, comer, beber, vestir, negócios, suas necessidades materiais e etc.?

14. Pois sim, são as estas perguntas que o texto lido hoje se propõe a responder.
15. Então, comecemos entendendo que as palavras de Jesus contra a ansiedade mundana, são uma “aplicação prática” de tudo o que Ele vinha dizendo nos versos anteriores.
16. No v. 25 Ele continua e diz: “Por isso vos digo...”, e então segue seu argumento.

Ora, o que Jesus quer dizer com este “por isso”?
Por que Jesus usa este pronome demonstrativo?
O que significa este “isso” para Jesus ter de fazer uma aplicação prática?

17. Antes de nos convocar a agir, Ele nos convoca a pensar.
18. E Ele faz isso mostrando sempre que há duas possibilidades de se viver à vida.
19. Nos vs.19-21, Ele nos fala sobre os dois “tesouros” do coração do homem.
20. Depois nos vs. 22,23 fala sobre o “olho bom” e o “olho mau”.
21. E no v.24 fala sobre a impossibilidade de alguém “servir a dois senhores”.
22. Pois bem, é como se Jesus dissesse, “o tesouro de vocês deve estar no céu e não na terra; o seu olho deve ser sempre bom, lâmpada, luz e nunca mau, trevas; e o senhor a quem devem unicamente servir é a Deus e não as riquezas”.
23. Por isso, o tesouro no céu; por isso, uma visão espiritual sadia; por isso, servindo a Deus como o único Senhor, vos digo, não andeis ansiosos.
24. O “por isso” aqui significa o tesouro no céu, o olho bom e Deus como Senhor.
25. Se o cristão é alguém que têm todos esses valores eternos consigo, obviamente ele não deve se comportar ansioso pelos cuidados desta vida.
26. Pois ele tem investido toda a sua vida no que é incorruptível, luz e Soberano.
27. E do contrario também é verdadeiro, ou seja, se o seu tesouro é aqui, se sua visão só alcança esta vida e se o senhor de sua existência é a riqueza, você está condenado a viver debaixo de ansiedades profundas.
28. Portanto, andar ansioso pelo que se corrói, deteriora e acaba nesta vida é tolice.
29. Então, Cristo dá seqüência a seu argumento falando sobre o quê o cristão não deve se preocupar e o porquê ele não deve andar assim.

Sobre o quê o cristão não deve andar ansioso?
R: Sobre o que comer, beber ou vestir.
V. 25a

30. Esta, como diz Spurgeon, é a “trindade do mundo” que não pode ter a primazia do coração de um crente, ou seja, monopolizar a vida de alguém que tem seu tesouro no céu, um olho bom e Deus como Senhor.
31. Entretanto, antes de tratarmos do por que o cristão não deve andar ansioso, permitam-me fazer uma digressão para comentar alguns problemas relacionados à fé cristã por causa de falsas interpretações desse texto.
32. Vamos especificá-las negativamente para entendermos o que o texto não diz.

1) O texto não diz que o cristão está isento de trabalhar pelo sustento diário.

33. A Bíblia em toda sua latitude condena veementemente a preguiça.
34. Em Provérbios a formiga é tomada como exemplo de trabalho para que o preguiçoso se sinta repreendido. (Pv. 6.6)
35. Em II Tss. 3.10 – “se alguém não quer trabalhar, também não coma”.
36. Deus dá as aves do céu tudo de que elas precisam para viver, mas elas precisam sair do ninho e irem buscar ativamente. Elas precisam bater asas.

2) O texto não diz que o cristão não precisa fazer uma reserva para o futuro.
34. Apenas tomando uma carona no exemplo da formiga, as Escrituras louvam a formiga, porque ela armazena o alimento no verão para comer no inverno.
35. E noutra passagem a Bíblia diz que o crente que não faz provisão para o futuro de sua família é pior do que o incrédulo.
36. Portanto, esse texto não diz que o cristão “não pode economizar para dias piores” ou fazer um seguro previdenciário.

J. C. Ryle – “A provisão prudente para o futuro é boa; a fadiga, o desgaste, a ansiedade que atormente são ruins”.

John Stott – “O que Jesus proíbe não é o pensar sobre o futuro nem a previdência, mas a preocupação ansiosa”.

3) O texto não diz que o cristão está livre das preocupações desta vida.

37. Quando Jesus diz: “Não andeis ansiosos...”, é porque Ele sabe que diariamente somos assaltados por preocupações com o presente, em mantermos a todo custo o que já temos, e com o futuro por aquilo que queremos desesperadamente ter.

Quantos aqui entre nós não vivem ansiosamente em busca de manter seu nível de vida, seu status quo, sua posição social?
Quantos aqui entre nós não andam ansiosos em busca de alcançar um nível mais elevado de vida que ainda não possuem?

38. Pois bem, não estamos isentos de sofrermos tais preocupações, mas são delas que devemos nos livrar antes de um ataque cardíaco ou de uma úlcera inútil.

Lc. 21.34 – “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço”.

39. “Nunca sobrecarregado com as preocupações deste mundo”, esta é advertência.
40. E toda a preocupação deste mundo gira em torno do que comer, beber e vestir.

4) O texto não diz que não devemos desfrutar das coisas boas da vida.

41. Tudo é dom de Deus, e foram criadas para o nosso desfrute.
42. Ora, quem não gosta de um fim de semana na praia com toda fartura possível?!
43. O que não podemos é colocar todo o nosso foco de vida nessas questões.

Alguém disse – “Deus fez a praia para os crentes, os ímpios vão de enxeridos”.

44. Portanto, tendo feito isso, passemos então a considerar o porquê o cristão não deve andar ansioso quanto aos cuidados desta vida.

1) Por causa da providência de Deus em todos os níveis da existência.

1. Considere isto: do nascituro ao pó, o cristão desfruta do cuidado divino.
2. Se tão somente como cristãos conhecêssemos mais desta doutrina da providência de Deus, muitos de nós não precisaria tomar lexotan, rivotril, captopril ou maracujina para dormir. Concorda?
3. Pois bem, as palavras de Jesus “Não andeis ansiosos...”, equivalem a: “não vos preocupeis; não vivam preocupados com o que comer, beber ou vestir”.
4. Então, Ele passa a explicar porque o cristão não deve andar preocupado perguntando no v.25: “Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?”.
5. Lançando mão da dedução da lógica, é notório que Cristo argumenta sobre o cuidado divino partindo do maior para o menor.
6. Nos levando a refletir sobre quem é mais importante, precioso, valioso; a vida ou o alimento, o corpo ou a veste que lhe cobre?!
7. É como se Jesus dissesse: “Considerem a vida pela qual vocês andam ansiosos. Como é que vocês conseguiram obtê-la? De onde ela veio?”.
8. Ora, bem sabemos que a vida é dom de Deus.
9. E como não existe vida humana aqui sem um corpo, de onde veio esse corpo?!
10. Ninguém aqui decidiu nascer por si mesmo, foi Deus quem decidiu por nós.
11. Ninguém aqui é fruto da evolução das espécies, como diz Charles Darwin.
12. Nós não somos auto-criação de nós mesmos; Deus é o criador.
13. Deus nos criou e agora sustenta a nossa vida, assim como nosso corpo.
14. Paulo diz: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”.
15. Cristo fundamenta esse grande princípio da providencia divina extraindo exemplos do mundo sub-humano – a natureza.
16. Ele nos convida a fazermos uma seria observação na criação.

V.26 – “Observai as” ou “Olhai para” – no grego isso é “emblepsate eis” que significa: fixe os olhos em algo para enxergar bem.

V.28-30
As aves do céu, quem as sustenta?
Os lírios do campo, a erva do campo – quem os veste suntuosamente melhor do que Salomão?

17. Pois sim, toda a força do argumento repousa no “valor” da vida humana acima da vida dos animais e dos vegetais.
18. “Não valeis vós mais...”, “quanto mais a vós outros...”.
19. O sentido real é que se Deus cuida dos animais e dos vegetais, quanto mais cuidará de mim que sou criado a sua imagem e semelhança; que para Ele tenho muito mais valor que os pássaros e as flores do mais belo jardim.

Spurgeon – “Oh, maravilhosos lírios, como vocês reprovam o nosso tolo nervosismo”.

Vocês lembram da historinha da conversa do pardal e da rolinha?
Disse a rolinha ao pardal:
“Gostaria de saber por que os homens, ansiosos, nunca param de correr!”
Respondeu o pardalzinho:
“Minha amiga, eu penso assim:
Não sabem que o Pai celeste cuida de ti e de mim!”


20. Essa é uma lógica que cura, pois se entendemos que Deus já providenciou o maior (nossa vida e nosso corpo), é claro que Ele providenciará o menor (nosso alimento e nossa roupa). Ele tem seus meios.
21. Portanto, antes de andarmos ansiosos e preocupados com o que comer, beber ou vestir devemos ponderar bastante sobre esse princípio e nos agarrarmos a ele com toda a nossa força e entendimento.
22. Porque como cristãos além de criaturas, somos também filhos do Pai celeste.
23. Fora o próprio Deus que nos fez ovelhas do seu rebanho diz o Sl. 100.
24. Considere isto: uma criança órfã não escolhe o pai que ela quer, é o contrário, o pai é quem escolhe a criança que quer adotar.
25. Pois bem, direcione isso agora para Deus, não foi você que o escolheu como Pai, foi Ele que lhe escolheu como filho; Ele lhe adotou; Ele lhe amou primeiro.

Jo. 15.16 – “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros...”.

26. Ele é o Pai responsável por sua adoção; Ele decidiu ter você como filho.

Você acredita que Deus é o deus do deísmo que criou o universo, deu corda como se dá num relógio e deixou tudo pra lá?
Você acredita que Deus deixa pela metade a boa obra que Ele começa?
Você acredita que o Deus da Bíblia Sagrada é o mesmo deus do teísmo aberto que não conhece o futuro e não sabe o que vamos comer, beber ou vestir amanhã?
Você acredita que Deus é um Pai irresponsável?

27. Não, Deus não é um pai irresponsável; Ele cuida dos seus filhos diligentemente.

Mt. 7.11 – “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?”.

28. O que temos aqui é toda a idéia da identidade paternal e filial do cristão.
29. Deus se identifica nas Escrituras como Pai do crente, e o crente é identificado ali como filho de Deus; tudo isso em termos de fé em Cristo.

Jo. 1.12 – “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome (de Cristo)”.

V. 32 – “vosso Pai celeste”.

30. Neste verso temos a nítida separação entre aquele que é filho de Deus e aquele que não é; que aqui Jesus o chama de gentio.
31. Gentio aqui, é o homem que não crê em Cristo, ou seja, é o ímpio em suas mais terríveis expressões de rebelião e pecado contra Deus.
32. É aquele homem cujo tesouro está aqui na terra, sua visão da vida é existencialista e seu senhor é a riqueza; portanto, não pode ser filho de Deus.
33. Em contra partida, o cristão é alguém que crê plenamente no nome de Cristo, e por isso é recebido como filho pelo próprio Deus Pai.
34. E por ter um Pai celeste como este, não anda como os gentios andam, ansiosos e preocupados com o que comer, beber e vestir.
35. O cristão é alguém que descansa no fato de que seu Pai sabe do que ele precisa para sobreviver neste mundo e que jamais estará desamparado.
36. Este é o único homem que pode orar dizendo: “Pai nosso que estás no céu...”.
37. Pois de fato Deus é o Pai que provê seu “pão de cada dia”.

Sl. 37.25,28ª
Sl. 127.2
Fl. 4.19

D. M Lloyd-jones – “É o próprio Deus quem nos propicia a vida, bem como o corpo no qual vivemos. E, se Ele assim fez, então podemos extrair daí a seguinte dedução: O seu propósito para conosco será cumprido”.

2) Porque sua fé não pode ser uma desonra para Deus.

1. A ansiedade está assentada no chão do medo, e medo é falta de fé.
2. No mínimo podemos dizer que medo no cristão é fruto de uma fé pequena.

Spurgeon – “Se dermos ocasião ao medo, desonraremos aquilo que confessamos crer e levaremos outras pessoas a duvidarem da veracidade de nosso cristianismo”.

II Tm. 1.7 – “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia (temor, medo), mas de poder, de amor e de moderação”.

O que é fé?

Hb. 11.1,6

3. Portanto, viver escravizado pela preocupação e o medo, é demonstrar deficiência em minha fé; e sem fé não há honra alguma para Deus.
4. Cristo declara que viver ansioso, preocupado, com medo de morrer a míngua como se o Pai celeste não se importasse conosco, nos caracteriza como gente que tem uma fé pequena, ou seja, uma fé “deficiente”.

V.30 – “homens de pequena fé?”

5. Sim, é verdade o que Cristo disse, que se eu tiver fé do tamanho de um grão de mostarda, muita coisa será diferente em minha vida.
6. Entretanto, a idéia não é que o grão de mostarda permaneça o tempo todo do mesmo tamanho, não; mas que ele deve crescer e se tornar árvore frutífera.
7. Assim é a fé do cristão, ela não pode permanecer pequena o tempo todo, precisa crescer e frutificar para glorificar e honrar a Deus.
8. Cristo não está dizendo que ele não tem fé, mas sim, que tal fé é tão pequena que não alcança o tamanho de um grão de mostarda.
9. Ou seja, que a mesma é deficiente, é anã em seu sentido mais estrito.
10. Fé que não cresce, se desenvolve é fé que desonra a Deus e o evangelho.

Alguém definiu assim – “A fé pequena é aquela que não se vale de todas as promessas de Deus”.

38. Ou seja, a deficiência de tal fé repousa justamente aqui, na ignorância, na falta de conhecimento das promessas de Deus para minha vida.
39. Ou então, o que eu conheço sobre suas promessas é mui pouco, e nunca amplio o quadro das promessas divinas para mim, mantendo uma fé pequena.
40. Este homem tem fé, crê na promessa que Cristo o livrará do inferno, mas só isso.
41. A sua fé não compreende que por todos os lados o cristão é cercado de promessas divinas, e isto o leva a andar ansioso e preocupado neste mundo.
42. Pois, a ansiedade mundana é totalmente incompatível com a fé cristã, precisamente por causa das promessas de Deus que estão entre elas.
43. O cristão ansioso é aquele que não conhece a mensagem de Pedro que fala sobre “...as suas preciosas e mui grandes promessas...”.
44. Permitam-me colocar assim:

O cristão é alguém que está a caminho de uma cidade chamada preocupação, mas antes, há uma parada na estação das promessas de Deus, parando aí e meditando sobre elas, ele percebe que não mais precisa seguir viagem até a cidade da tormenta. E conclui então que o cristão que chega à cidade da ansiedade é porque ele não parou na estação das promessas divinas. É um tolo por assim dizer.

45. Se conhecêssemos mais das promessas de Deus espalhadas por toda a Bíblia Sagrada, teríamos uma fé maior e sadia que honra e glorifica o nome de Deus.
46. Ansiedade mundana é fruto de uma fé deficiente, e o resultado de uma fé assim é desonra para Deus.
47. Porque o deus de um homem é totalmente desacreditado, desonrado se o mesmo não lhe garante segurança alguma quanto a suas necessidades mais básicas.
48. Em outras palavras, quando andamos ansiosos e preocupados com as coisas desta vida, estamos vaticinando a idéia de que o Deus que confessamos é impotente, e se é potente em algum grau, não nos ama cuidando de nós.

William MacDonald – “Tal preocupação sobre o futuro é pecado, pois nega o amor, a sabedoria e o poder de Deus. Nega o amor de Deus implicando que Ele não cuida de nós. Nega a sua sabedoria implicando que Ele não sabe o que está fazendo. E nega seu poder implicando que Ele não é capaz suprir nossas necessidades”.

49. Ora, vejam a diferença que há entre o Deus de Elias e Baal no monte Carmelo!
50. Quem ali ficou desacreditado e quem ali foi honrado e glorificado?!
51. Pois sim, como cristãos temos dois desafios quanto a nossa fé, o primeiro é o de ampliá-la conhecendo mais das promessas de Deus, e o segundo é o de aplicá-la nestas horas de ansiedade para a glória de Deus.
52. Podemos ampliá-la conhecendo mais das promessas de Deus na Bíblia.
53. E aplicá-la na vida partindo do princípio de que sabemos em quem temos crido.

Como fazer isso?

54. Quando a preocupação bater a sua porta, considere-a a luz de tudo o que você conhece sobre as promessas de Deus, sua paternidade, seu cuidado, seu amor, poder, sabedoria, soberania indagando a si mesmo como cristão:
A minha reação diante das crises é a mesma reação que tem um ímpio que não conhece a Deus?
As promessas de Deus abarcam toda a minha vida em detalhes, inclusive nesta questão de ter o que comer, beber ou vestir?
Deus é um pai irresponsável que deixa seus filhos a mingua?
Deus me ama e me tem como seu filho se eu creio em Cristo?
A minha reação é completamente diferente daquela que teria se eu não fosse crente?
Eu creio mesmo em todo o Sl. 91, 23, 46, em toda a Bíblia?
Eu posso ter segurança em orar dizendo: “Pai nosso que está nos céus...”?
Então, por que eu estou ansioso, preocupado com os cuidados deste mundo?

55. Pois bem, o cristão é alguém que aplica toda a sua fé em situação de temores, e quando o faz é fortalecido nas preciosas promessas, e Deus é mais glorificado nEle. Isto é o que significa: “embraçando sempre o escudo da fé”.
56. Deus é o firme fundamento de sua fé, sua satisfação está em honrar e glorificar ao Senhor e nisso está “a vitória do crente que vence o mundo”.

João Calvino – “Tal homem será capaz de repousar tranqüilamente mesmo em meio às tormentas e tempestades deste mundo, visto que alimenta uma confiança inabalável de que Deus, que não pode mentir ou enganar, falou, e o que ele prometeu, certamente o cumprirá.”.

Hc. 3.17-19 – Isto é uma fé sadia, madura, brilhante que honra e glorifica a Deus.

3) Porque há um Reino e uma Justiça que tem primazia em seu coração.

1. Pelo menos é para ter, pois esta é uma característica do cristão genuíno.
2. Ou seja, nada pode estar antes disso como prioridade no coração de um crente.
3. Pois o que identifica um homem ou uma mulher como filho do Pai celeste, é o lugar em que o reino e a justiça de Deus ocupam em sua vida.
4. É isso que Jesus está dizendo no v. 33.
5. No v.32 Ele tinha acabado dizer: “pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas”.
6. Ora, se o cristão é filho e descansa na verdade de que seu Pai sabe, conhece as suas mais ínfimas necessidades, ele então raciocina:
Bem, se Cristo me proíbe de andar ansioso como os gentios andam em busca do que comer, beber ou vestir, por ser isso o que dá sentido a vida deles, o quê eu, como cristão, devo buscar para dá sentido a minha vida?
O quê, por exemplo, me cabe como cristão buscar diligentemente para em parte me diferenciar de um gentio, mas principalmente para que eu seja mais feliz em Deus e Deus mais glorificado em mim? O quê eu devo buscar?

V.33

John Stott – “Cristo nos intima a ambicionar o reino de Deus e sua justiça”.

7. Ele diz que esta é uma “ambição verdadeira ou cristã: o reino e sua justiça”.
8. As nossas ansiedades são frutos de nossas ambições.
9. Então aquilo que mais ambicionamos é o que mais nosso coração ansiará por ter.
10. Se ambicionamos os tesouros deste mundo, se eles nos encantam e fascinam, aí estará nosso coração ansioso, preocupado em conquistá-los.
11. Porém se ambicionamos o reino de Deus e sua justiça, ali estará o nosso coração ansioso por Deus, por sua santidade, por sua graça, por seu poder, por seu Espírito, por sua palavra, por sua glória, por sua presença, pelo céu.
12. Quando Cristo diz: “Não andeis ansiosos...” ou “não vos preocupeis”, é interessante notar que isso indica algo que divide, separa, distrai a atenção ou lhe tira do foco. É como uma visão dupla, olhar para dois lugares ao mesmo tempo.
13. Isto não é um “olho bom”, uma boa visão com foco concentrado.
14. Permitam-me fundamentar o que digo com uma ilustração.

Lc. 10.38-42

15. Coitada da Marta estava sem foco, se deixara distrair por vários afazeres ao mesmo tempo, anda inquieta e se preocupa com muitas coisas.
16. Por outro lado, Maria está firme em seu propósito em ouvir o Mestre, e esta Jesus considera a melhor parte.
17. Essa é lógica espiritual do v.33, termos só um foco, um só lugar para olhar, uma só ambição – o reino de Deus e sua justiça.

Alguém disse: “Não podemos pôr os pés em duas canoas”. (Isso é uma grande verdade)

18. Mas sabe o que é incrível, é que tem gente que consegue tal feito quando se trata de cristianismo, não por muito tempo é claro, mas consegue.
19. Porque pôr os pés em duas canoas significa:
a) estar num culto com a mente ansiosa por saber o resultado do futebol;
b) vir à igreja no domingo apenas para desfrutar de um encontro social;
c) crer em Deus, mas não ter compromisso com sua causa;
d) na igreja ser uma benção, mas em casa uma onça;
e) querer a bênção de Deus, mas não o Deus da benção.

20. Isso é tentar viver com duas ambições no coração, dois tesouros, dois senhores, duas visões, dois estilos de vida ao mesmo tempo. (II Co. 4.18)
21. Não, essa não é a genuína expressão de um coração cristão.
22. O coração do cristão bate, pulsa, anseia primariamente por um Reino e uma Justiça que excede a todo e qualquer valor que se encontra neste mundo.
Um reino mais valioso que todo ouro do planeta;
Um reino mais valioso que o futebol;
Um reino mais valioso que toda saúde da terra;
Um reino mais valioso que o prazer do sexo;
Um reino mais valioso que as amizades sociais;
Um reino mais valioso que sua família;
Um reino mais valioso que seu carro;
Um reino mais valioso que sua faculdade;
Um reino mais valioso que seu mestrado, doutorado;
Um reino mais valioso que seu emprego;
Um reino mais valioso que sua própria vida.

23. Esta é a ambição que monopoliza, controla toda a sua personalidade e afeta diretamente todo o seu estilo de vida. Fora disso ele não se sente feliz.
24. Pois ele entende que buscar o reino significa aumentar cada vez mais e mais sua participação nesse reino da luz.
25. Ele já está dentro do reino, o que precisa agora é tornar cada vez maior sua participação aí.
26. Ele entende as palavras de Pedro que diz: “... procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição...”.
27. Ou como Paulo diz em Cl. 3.2 ele “pensa nas coisas lá do alto e não nas que são daqui da terra”. Isso ocupa todo o seu pensamento.
28. E ele faz isso investindo mais tempo com Deus em oração, no estudo da palavra, nos cultos, nas EBDs, ouvindo pregações, ouvindo musicas sacras, lendo bons livros, lendo as biografias dos heróis da fé e etc.
29. E quando se trata de buscar a justiça, ele entende que isso significa buscar mais retidão, santidade de maneira positiva; pois sabe que “sem santidade ninguém verá ao Senhor”.
30. Os antigos filósofos gregos viviam em busca do “Bem Supremo”.
31. O cristão é alguém que já tem esse Bem Supremo, Cristo; o que ele precisa é desfrutar mais desse Bem Supremo buscando o seu reino e sua justiça.
32. Se o reino e a justiça de Deus não têm primazia em nosso coração, em tudo o que temos e o que somos, devemos duvidar se somos cristãos realmente.
33. Teste a si mesmo (II Co. 13.5 – “Examinai-vos...):
Quem tem a primazia de seu coração?
Qual a sua maior ambição:
a) O reino de Deus ou o futebol?
b) O reino de Deus ou o dinheiro?
c) O reino de Deus ou o prazer do sexo ilícito?
d) O reino de Deus ou sua profissão?
e) O reino de Deus ou a pornografia?
f) O reino de Deus ou a bebida?
g) O reino de Deus ou a comida?
h) O reino de Deus ou a roupa de grife?
i) O reino de Deus ou o seu carro?
j) O reino de Deus ou a sua própria vida?

34. Se o reino de Deus e sua justiça tiverem primazia em nosso coração, não precisaremos de ansiolíticos, calmantes ou maracujina para andarmos tranqüilos, pois estamos certos que “todas as demais coisas nos serão acrescentadas”.
35. Isto é promessa de Jesus, quando diz que “todas estas cousas vos serão acrescentadas”.
36. Coisas como o que comer, o que beber e o que vestir não nos faltarão.

V. 34

37. Aqui Jesus termina em tom negativo, dizendo que é inútil está preocupado com o futuro, que segundo o v. 27 diz, não poderemos aumentar um côvado sequer, 45 centímetros a mais a todo o curso de nossa vida.
38. O futuro a Deus pertence, não nos cabe se preocupar com ele, basta o mau de hoje, se temos de cuidar de alguma coisa, que seja uma de cada vez.
39. O que nos cabe agora fazer é sairmos daqui avaliando nossas ambições, buscando conhecer mais da providência de Deus e vivendo uma fé que honra e glorifica ao nome de Cristo.

Fl. 4.6,7 – Amém!

Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.

Postagens mais visitadas deste blog

Salvai-vos desta geração perversa

Atos 2.40 Estas são as ultimas palavras do sermão de Pedro no dia de pentecostes. Isto é uma exortação apostólica através da pregação do evangelho. A fim de entendermos o porquê desta exortação do apóstolo, é necessário fazermos uma retrospectiva do que aconteceu ali para falar de tal maneira. Tal sermão foi pregado dentro de um contexto que marcou a história da igreja primitiva com um evento extraordinário e único. Tendo se cumprido o dia de pentecostes, a Festa das Semanas, estando os apóstolos reunidos em oração no mesmo lugar, aconteceu entre eles algo sobrenatural nunca visto antes entre os homens. A Bíblia Sagrada diz que de repente, veio o Espírito Santo sobre eles com grande poder e eles passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falasse. Era algo incomum, surpreendente; homens comuns, pescadores iletrados, gente analfabeta, com o rosto queimado do sol do, falando desembaraçadamente das grandezas da eternidade em varias línguas estrangeiras. Era al...

Restitui-me a alegria da tua salvação.

Sl. 51.12 Spurgeon disse compropriedade: “Quando a mensagem divina acordou a consciência dormente de Davi e o fez ver a enormidade de sua culpa, ele escreveu este salmo”. D. M. Lloyd-jones falou sobre o Sl. 51 “Este salmo é o registro da agonia da alma de Davi, o rei de Israel, após ter sido culpado de um crime (pecado) particularmente terrível”. João Calvino diz que Neste salmo Davi tem “ansiedade de testificar seu arrependimento a todos quantos o cercavam, e de deixar à posteridade alguma prova final dele”. 1. É isto, todo este salmo é a prova final do arrependimento de Davi. 2. Spurgeon dizia que não há como atribuir a outro a autoria deste salmo, porque “o salmo 51 é Davi em tudo”. 3. Pois sim, o salmo 51 é considerado a mais bela expressão de arrependimento de um pecador, encontrado não só no A. T., mas em toda a Bíblia Sagrada. 4. Se alguém quiser uma ilustração prática e vívida do que significa arrepender-se dos seus pecados, o salmo 51 é a melhor. 5. Nele nós encontramos um re...

Tema: Não vale mais a pena discordar discutindo

David Abreu Calma, calma. Não que eu deixe de ter minhas opiniões e me renda as dos de opiniões diferentes que não gostam de ler, estudar e principalmente pensar, mas que amam os holofotes do mundo evangélico sem nada de fato saber o que acontece nos bastidores e acima de tudo não se importam em saber se o que está acontecendo é certo ou errado. Porque para esse tipo de gente, o que importa é que as coisas "dêem certo", ou seja, não importam os meios se no fim tudo se justifica. Bem começo por aqui Não discordo mais discutindo com quem acha que a Universal do Reino de Deus é um referencial evangélico, pelo fato dela "lutar" para que a mídia evangélica tome espaço na TV nacional, ainda que seja colocando novelas imorais em horário nobre; sendo que este espaço serve a não ser para "lavagem cerebral" de uma massa fraca que se vende á preço de banana por qualquer espaço no palco da fama ou suposto milagre que esses sanguessugas "da fé" oferecem. Não ...